Discoteca

-Podes ter a certeza que neste caso nunca é a palavra indicada! - exclamei decidida, deitando-lhe um olhar desconfiado quando o vi aproximar-se de mim. Arregalei os olhos não conseguindo evitar os arrepios que me percorreram o corpo ao ouvir a voz dele - Isso não é verdade! - virei a cara na direção dele, fazendo-nos ficar muito perto.

-Tu estás toda arrepiada - apontei para as pernas dela - Eu mexo contigo - dei-lhe o meu melhor olhar convencido, mordendo o lábio. De repente ela estava demasiado perto, por isso decidi virar a cara para o bar - Ainda queres a bebida?

-Outra grande mentira. - respondi sem grande convicção. Dissesse o que dissesse ele nunca ia acreditar por isso não valia a pena. E não podia mentir... o modo como os olhos penetravam nos meus e a visão dele a morder o lábio (que agora se repetia vezes sem conta na minha mente) estavam a dar comigo em doida. Mas eu também sabia brincar - Claro. - levantei-me e olhei para trás estendendo-lhe a mão.

-Não podes negar um facto - meti uma mão numa das suas pernas, não abusando muito e pedi duas vodkas ao barman. Ela levantou-se e eu fiquei a olhar com ela com uma cara estranha.

-Não é um facto. - revirei os olhos, fingindo que não tinha sentido a mão dele na minha perna para meu próprio bem - Não faças essa cara estranha. - tirei-lhe uma das bebidas da mão - Quero ver se vales alguma coisa a dançar. - bebi tudo de uma vez e pousei o copo em cima de uma mesa - Querido. - pisquei-lhe o olho. Como ele não havia meio de se despachar peguei-lhe na mão e levei-o comigo para a pista, tendo o cuidado de não ir para o meio da confusão.

Arregalei os olhos quando ela emborcou a bebida toda. Afinal não era tão santinha como eu pensava.
-Eu não vou dançar! - exclamei, mas ela já me tinha arrastado para a pista. Bebi também tudo de seguida, não me fosse arrepender de ter ido para ali.

-Ai vais sim! - esperei que ele bebesse também a bebida dele até ao fim e comecei a dançar sem lhe largar a mão. Entrelacei os nossos dedos para não nos perdermos um do outro.

-Pronto, está bem - bufei e ela começou a dançar. De início fiquei só a olhar, mas assim que ela me agarrou na mão, tive de dançar também.
Fi-la dar uma volta e puxei-a mais para mim.

Sorri satisfeita com os meus poderes de persuasão. Revirei os olhos quando, depois de dar a volta, reparei que estava mais perto dele do que no início - Nada de abusos. - avisei-o.

-Não estou a abusar, só estou a dançar - larguei a mão dela e meti as minhas mãos na sua cintura. Fiz lá uns passos minimamente decentes para uma discoteca, para ver se ela se calava.

-Quem te disse que podias largar a minha mão? - dancei com ele, mexendo as ancas ao ritmo da música. Provavelmente estava a fazer figura de parva e toda a gente se estava a rir de mim mas who cares!?

-Uhh, ninguém?? - ri-me e senti as ancas dela a mexerem-se por baixo das minhas mãos que acompanhavam o movimento.
-Olha lá, como é que tu te chamas? É pigmeu ou tens outro nome?

-Se a resposta é ninguém porque é que o fizeste? - o facto de ele me estar a agarrar pela cintura também impedia que nos separássemos mas eu adorava ter um motivo para implicar com ele - Madison. - respondi com o sotaque italiano a acentuar-se mais do que pretendido - Chama-me isso outra vez e levas um pontapé.

-Ahh, sei lá, porque é mais fácil estar assim? - encolhi os ombros - Madison...Maddie...Pig-nada. - ri-me e ainda me ri mais do sotaque dela. Não que fosse uma coisa má, mas metia piada.

-Essa não é a resposta correta mas desta vez eu deixo passar. - semicerrei os olhos ao ouvir os nomes que ele me estava a dar. Fiz forças para não estremecer da primeira vez que ele disse Madison. Era...diferente. E o sotaque dele só ajudava à festa - Do que é que te estás a rir? Não me irrites!

-Então qual é a resposta certa? - perguntei, levantando uma sobrancelha - Estou-me a rir do teu sotaque, mas não é por mal, é só engraçado - pisquei-lhe o olho outra vez.

-Não interessa. Eu sei qual é e isso é que é importante. - por momentos, embrenhada na conversa, tinha quase parado de dançar. Voltei a mexer-me com mais convicção até do que no início - Deixa o meu sotaque! - ralhei.

-Oh-kay?? - ela por momentos parou de dançar, mas parece que acordou para a vida e começou a dançar outra vez - Já deixei! - levantei as mãos por breves momentos, mas voltei a metê-las no sítio, não viesse outro gajo - Ah e já agora, o meu nome é Simon.

-Não me largues! - repreendi assim que ele retirou as mãos da minha cintura. Felizmente não demorou muito tempo a voltar a colocá-las - Simon... - repeti de novo nem sequer me importando com o sotaque - Fica-te bem.

-Estás com medo? - dei-lhe outro meio sorriso - Sou eu! - fiz uma cara de parvo - É, a minha mãe escolheu bem o nome.
O meu nome com aquele sotaque ainda soava melhor.

-Não, só não quero que tires as tuas mãos de mim. Nem por um segundo. - pisquei-lhe o olho e acabei por sorrir também, contagiada pelo sorriso dele - Parece que sim. Também estou feliz com a escolha da minha. Podia-me ter calhado muito pior.

Normalmente costumo apanhar as pistas das gajas, mas vindo da Madison, nem sabia bem o que ela queria, mas decidi continuar.
-Tipo, Pigmeu? Eu tenho a certeza que os teus pais pensaram nesse nome até antes de seres planeada.

-Cala a boca. - reclamei. Claro que não ia demorar tempo nenhum até ele me irritar outra vez. Mas parecia ser assim que nós funcionávamos: ora nos tolerávamos ora discutíamos que nem loucos. Eu discutia, porque ele parecia nunca se incomodar muito com nada. Outro facto acerca dele que me intrigava.

-Meh, e se eu quiser começar a falar tudo o que me apetece? - perguntei, divertindo-me a chateá-la. Ela ficava sexy, completamente passada.
-Já me estou a cansar destas músicas - meti a língua de fora.
Era tudo música de discoteca, não me devia admirar, mas preferia bandas guitarra e bateria.

-Levas chapadas nessa tua cara de menino bonito. - sorri cinicamente - Tens esse ar de mau e de durão mas a mim não me assustas. Nem um bocadinho. - encolhi os ombros. Movi-me mais devagar quando ele disse que estava farto - Queres parar?