Room 311

-Ai não sou? Olha que pareço! - calei-me de uma vez por todas e continuei a beijá-lo. Mexi-me um pouco em cima dele e pus-lhe uma mão no ombro e a outra na parte de trás do pescoço. Aprofundei mais o beijo. Ele era meu e mais nenhuma ninguém lhe ia pôr as mãos em cima. Puta ou não. Ai jesus, cala-te Madison, estás a dar em doida!

-Não - disse.
Com uma mão, segurei a cintura dela e com a outra, acariciei os seus cabelos, algo que não era habitual em mim.
Decidi afastar-me por uns momentos para ver as horas.
-Eu tenho de ir Madison, amanhã trabalho - disse contra o seu ombro.

Separei o beijo, roçando o nariz na bochecha dele e apreciando o facto de ele ter a mão no meu cabelo - Não. - abanei a cabeça - Dorme comigo. - pedi, com um beicinho. Recuso-me a dormir sozinha esta noite. Ou qualquer outra. Já estou habituada a dormir com ele e esqueço-me sempre de que ele não é meu namorado e não tem obrigação de dormir comigo. Mas eu sou tão egoísta que, apesar dos meus pensamentos, não digo nada.

Mandei uma pequena gargalhada com o seu beicinho e ponderei acerca da sua proposta.
-Tenho de acordar mais cedo então, eu ainda tenho de ir buscar a minha roupa.
Elevei-a com a ajuda dos meus jeolhos e abri a cama dela.

-Eu vou contigo. - assegurei-o, agarrando-me bem a ele. Voltei a deitar-me em cima dele depois de ele abrir a cama. Ele era muito melhor que qualquer colchão - Só não te vás embora. - enrosquei-me nele como se ele fosse um peluche.

-Está bem - segurei-a com mais força contra mim.
-Eu não vou a lado nenhum - sussurrei e continuei a mexer no cabelo dela.

-Tens sono? - perguntei baixinho após algum tempo de silêncio. Por mim eu falava com ele e beijava-o a noite inteira, mas ele tinha que trabalhar e para além disso eu tinha todo o tempo do mundo. Ele não ia fugir. Acho eu.

-Ainda não - pressionei os meus lábios contra a sua testa.
-E tu? - perguntei.
Na verdade, eu tinha um bocadinho de sono, mas preferia agora falar com ela.

-Não. - abanei a cabeça - Simon... - comecei, parando logo de seguida. Sinceramente não sabia bem o que dizer. Ele deixava-me completamente sem palavras quando era assim querido para mim - Tens saudades de casa? - perguntei antes de lhe dar um beijo na bochecha.

-Sim? - olhei para ela e a pergunta dela apanhou-me de surpresa.
-Ainda não, só passaram duas semanas desde que me vim embora - disse.

-Eu às vezes tenho saudades de casa. - confessei, apesar de ele não me ter perguntado nada - Mas depois olho para ti e as saudades passam-me. - foi extremamente difícil manter o olhar no dele ao dizer-lhe aquilo. Primeiro por vergonha e segundo porque tinha medo que ele fugisse de mim.

Ouvi-a atentamente enquanto falava e fiquei sem saber o que dizer quando disse que as saudades que tinha de casa passavam assim que olhava para mim.
-Madison... - fechei os olhos e abanei a cabeça negativamente - Eu não sou bom para ti, lembra-te disso.

Sentei-me direita com as mãos no peito dele e virei-lhe a cara para mim - Não digas isso, Simon. - foi a minha vez de abanar a cabeça - Se nós não vamos ficar juntos não é porque tu não és bom para mim. Tu és bom para mim. És uma das pessoas mais interessantes que eu conheço, já to tinha dito. E não penses que digo isso só porque és sexy. A tua personalidade.... é qualquer coisa de diferente. - parei para respirar um bocadinho - Tu és incrível, Simon, e quem te disser o contrário é porque não te conhece minimamente. - inclinei-me para a frente, continuando com as mãos no peito dele para me apoiar e beijei-lhe os lábios ao de leve.

-Mas tu conheces-me há pouco tempo...há demasiadas coisas... - hesitei um bocado - Eu tenho muita bagagem comigo, Madison. Tu vais-te fartar e vais chegar a um ponto em que já não vais conseguir. Por isso é que eu sou como sou.

-Não. - neguei - Tu próprio já disseste que eu não sou como as outras. Eu não vou desistir assim tão facilmente. Se eu quisesse já me tinha ido embora, porque, se queres que te diga, és irritante para caralho. Mas continuo aqui e a menos que queiras que eu desapareça da tua vida eu não vou a lado nenhum. Há muito tempo que eu não conhecia uma pessoa tão real como tu. Por isso, cala a boca e não digas que eu me vou fartar. - mantive o meu olhar no dele enquanto falava.

Olhei para ela enquanto ela falava e assim que acabou, beijei-a, transmitindo-lhe mais do que um beijo.
-Está bem - acenei e voltei a beijá-la.

Vi-o aproximar a cara da minha e fechei os olhos porque sabia o que se seguia. Acariciei-lhe a bochecha enquanto o beijava. Ele era tão bebé e precisava tanto de carinho. E eu queria tanto dar-lhe todo o carinho do mundo. Queria cuidar dele - Simon... - foi tudo o que consegui dizer quando o beijo acabou. Não tinha palavras. Era incrível como ele me tinha dito tanta coisa só com um beijo. Em vez de usar palavras, segui o caminho dele e voltei a beijá-lo.

Sorri contra os seus lábios durante o beijo e depois afastei-nos, beijando a sua testa.
-Está na hora de dormirmos - voltei a deitar-me e a puxar Madison para cima de mim.

-Até amanhã. - sorri. Imitei o gesto dele e dei-lhe um beijo demorado na testa - Dorme bem. - rocei os nossos nariz e de seguida deitei a cara no ombro dele. Fechei os olhos e procurei pela mão dele, entrelaçando-a na minha. Não demorei muito a adormecer.

-Tu também - acariciei a mão dela, quando agarrou a minha e pouco tempo depois acabei por adormecer.

Abri os olhos lentamente. Pensei que já fosse de dia mas quando os abri por completo notei que ainda era de noite. Olhei para Simon que dormia como um anjinho e não pude evitar sorrir. Saí de cima dele com cuidado e fui até à casa de banho.

-Não prestas - ouvi uma voz dizer. Eu já não tava na cama. Estava de repente em casa - A tua mãe morreu por tua culpa e a tua irmã foi-se embora por tua culpa. És a desgraça desta família - a voz era o meu pai. Ele pegou num candeeiro e atirou-o à minha cara, mas não me acertou.
-PAI, PÁRA! - gritei, mas ele continuava a atirar-me coisas.

Estava a lavar as mãos quando ouvi gritos vindos do quarto. Simon. Limpei as mãos à camisa rapidamente e corri para o quarto. Estava escuro mas conseguia ver Simon a contorcer-se. A expressão dele era de medo e horror - Simon! - corri até à cama e subi lá para cima - Simon, acorda. - agarrei-lhe na face com as duas mãos e afastei-lhe os caracóis suados, agora já sem o efeito do gel, da cara.

O meu pai continuava a gritar o meu nome mas a voz dele começou a distorcer-se para a voz de uma rapariga.
Abri os olhos e Madison estava em cima de mim. Olhei-a de olhos arregalados e completamente atordoado.
-Eu...ah..

Tive que abaná-lo mais algumas vezes até que ele acabou por acordar - Simon, estás bem? - larguei-o por um bocadinho para lhe dar espaço para respirar. Estava tão preocupada com ele. Porque é que ele estava a gritar para o pai dele parar?