Room 205

Abanei a cabeça e aqui vinham eles, os arrepios de frio.
Peguei no champô e comecei a lavar o meu cabelo. Depois, lavei o dela.
-Agora ficas a cheirar a mim, oops.

-Eu gosto de cheirar a ti. - abri os olhos e sorri-lhe. Ao passar as mãos pelos braços notei que estava todo arrepiado. Pus-lhe a mão na testa e senti-o um pouco quente mas pensei que fosse do banho - Estás bem? - perguntei pelo sim pelo não.

-Sim, estou só cansado, não te preocupes.
Assim que saí do banho, dei uma toalha a Madison e fui buscar roupa para ela. Agora eu, enfiei umas calças de pijama e uma camisola de manga comprida.

Apesar da resposta dele não acreditei. Para além de estarmos os dois nus na banheira e ele não me estar a tentar saltar em cima, o sorriso que habitualmente habitava a cara dele estava ausente. Estava a escorrer o cabelo quando o vi entrar de calças e manga comprida - Dói-te alguma coisa? - fechei a toalha em redor do meu corpo e aproximei-me dele de novo. Encostei-lhe a mão à testa - Estás a escaldar, Simon. Vai-te deitar que eu vou-me só vestir e já vou ter contigo. - pedi, fazendo-lhe uma carícia na bochecha.

Abanei a cabeça quando ela me perguntou se doía alguma coisa.
-Eu estou bem - mentiroso.
Mas mesmo assim deitei-me na cama e tapei-me até à cabeça.

-Não digas que estás, porque eu estou a ver que não. - larguei-o e ele lá se foi deitar. Sequei o corpo e enfiei os boxers e as t-shirt dele. Sequei também o cabelo com a toalha e deixei-o cair molhado nos ombros. Tirei uma toalha mais pequena do armário e ensopei-a com água fria, indo ter com Simon à cama - Simon. - chamei baixinho para o caso de lhe doer a cabeça - Trouxe isto para ti, vira-te de barriga para cima. - pedi.

Okay, isto não era cansaço. Estava a ficar doente e a sério.
Fiz o que ela pediu.
-Isso tá frio - disse olhando para a toalha encharcada que ela tinha na mão.

-Sim, mas tu estás a escaldar. Vai aliviar-te. E também não podes estar assim tão abafado. Ou te destapas ou tiras a roupa e ficas debaixo dos cobertores. - sabia que ele não queria nenhuma das duas porque tinha frio mas tinha que ser. Desviei-lhe os caracóis da testa e pus-lhe lá a toalha.

-Nenhum deles, tenho frio - queixei-me - Aii, isso tá gelado.
Esqueci-me de avisar que quando estou doente também sou muito melodramático.

-Okay, então eu escolho por ti. - puxei-lhe os cobertores para trás e ajudei-o a sentar-se na cama - Segura aqui. - meti a mão dele na toalha e retirei a minha. Despi-lhe a blusa e deitei-o para trás despindo-lhe as calças. Tentei fazer isto tudo o mais rápido possível e quando acabei tapei-o - Já está. - dei-lhe um beijinho na bochecha - Tens aqui comprimidos? Se não tomares um não vais ficar melhor.

-Não, tá frio! - queixei-me e ia para voltar a meter as mantas por cima, mas ela decidiu despir-me - Foda-se - arrepiei-me ainda mais e agarrei-me o máximo que pude às camadas assim que ela me voltou a tapar.
-Não sei...procura aí nas gavetas.

-Desculpa. - acariciei-lhe os caracóis ao de leve - Eu sei que tens frio mas neste momento tenho que ser médica e não.... o que quer que seja que eu sou. - ri-me. Procurei pelas gavetas todas até que finalmente consegui encontrar a caixa indicada. Peguei num copo de água e levei-lho à cama - Toma. - estendi-lhe a mão com o comprimido.

-Obrigado - disse quando ela me deu o comprimido.
-Não te vás embora - pedi - Por favor.
Fechei os olhos por um bocado a ver se aquecia.

-Porque é que eu havia de me ir embora? - esperei que ele tomasse o comprimido e pousei o copo em cima da mesa de cabeceira - Tenta descansar um bocadinho. - disse quando o vi de olhos fechados. Reparei num livro que ele tinha para ali em cima e peguei-lhe. Subi para a cama ao lado dele e abri o livro.

Atirei a toalha ao chão e virei-me de barriga para baixo. Estava mais confortável assim.
Fiquei a pensar no que ela tinha dito, acerca de não saber o que me era. Obviamente era mais que uma amiga... mas menos que uma namorada. Será que estou preparado para esse tipo de relação?

Levantei o olhar do livro quando ele se mexeu na cama e vi que ele tinha tirado a toalha da testa. Ia reclamar mas decidi não o fazer. Pousei o livro, peguei na toalha e fui pô-la na casa de banho para se fosse precisa para mais tarde. Mesmo quando estava a voltar para a cama o meu telemóvel começou a tocar. Apressei-me a atendê-lo sem sequer vem quem era.
-Sim? - tentei não falar muito alto.
-Madison? - a minha mãe estranhou eu ter atendido em inglês.
-Ah desculpa mãe, não sabia que eras tu.
-Onde estás? Hoje vamos jantar todos juntos.
-Estou com o Simon, eu vou ficar com ele hoje, está bem? Ele está doente e eu não quero deixá-lo sozinho.
-E vais dormir na cama com ele?
-Não mãe. - revirei os olhos - Provavelmente não vou conseguir dormir, tenho que controlar a febre dele.
-E precisas que eu vá aí dar uma olhada? - a minha mãe era enfermeira.
-Não, não é preciso, obrigada. Eu lembro-me do que tu me ensinaste.
-Está bem. Então beijinhos.
-Beijinhos mãe e obrigada por compreenderes. - consegui ouvi-la sorrir do outro lado e a linha ficou muda.
Pousei o telemóvel e voltei a subir para a cama, olhando de relance para Simon. Esperava que ele ficasse melhor com o comprimido.

Acabei por adormecer e quando acordei sentia-me ligeiramente melhor, talvez por causa do comprimido que Madison me tinha dado.
Abri os olhos e destapei-me todo. Estava cheio de calor agora.
-Odeio estar doente.

Li durante o tempo todo em que ele esteve a dormir, olhando frequentemente para ele para me certificar que ele estava bem. Desviei o olhar do livro quando ouvi a voz dele - Olá dorminhoco. - sorri - Eu vou buscar a toalha. - pousei o livro na mesa de cabeceira e fui à casa de banho buscar a toalha. Molhei-a com água fria e voltei para junto de Simon, pondo-lha na testa - Estás melhor? Queres comer?

-Outra vez essa coisa - resmunguei quando ela foi buscar a toalha.
-Não, só quero estar deitado. Acho que vou morrer hoje. I feel it.

-Mas se tens calor vai-te ajudar porque está fria! Só um bocado, Simon. - pus as mãos na cintura enquanto o observava - Não podes ficar sem comer o resto da noite. E não sejas tão dramático. - ri-me - Achas que eu te deixava morrer?

Fiz um som de desagrado e rendimento.
-Trás-me gelado, apetece-me gelado, gelado é bom - okay, eu sou insuportável.
-Agora tenho frio - voltei a tapar-me.

-Nem penses que te vou trazer gelado! Estás doente, podes comer uma canja ou se quiseres outra comida qualquer. Gelado não. - porra, eu estava a tentar que a tampa não me saltasse, mas a impertinência dele começava a chatear-me - Queres que eu te vá buscar a comida ou não afinal?

-Mas gelado sabe bem - chorei (not literally).
-Mas...okay então vai-te embora - arrependi-me logo do que disse - Não, não, volta, eu preciso de ti.

-Sabe mas tu não podes comer isso agora. - revirei os olhos. Levantei-me da cama e ainda bem que o fiz porque se estivesse tão perto quando ele disse que queria que eu me fosse embora eu tinha-lhe batido - O que é que disseste? - custei a dizer a frase completa. Não estava à espera daquela e sinceramente não sabia o que sentir.

Não valia apena disfarçar, ela ouviu perfeitamente.
-Eu preciso de ti - disse lentamente. E era verdade.
-Não te vás embora, mesmo que eu no meu perfeito estado de delírio o diga.