Room 205

Não consegui conter um sorriso quando ele sorriu também. Aquele sorriso lindo. Ele podia sorrir mil vezes que eu continuaria a ficar vidrada como se fosse a primeira vez - Por acaso pensava que só me querias mesmo chatear. - ri-me - Mas ainda bem que insististe. Estou tão feliz por ter tido a chance de conhecer e sinceramente tenho pena das pessoas que não te têm na vida delas.

-Eu gosto de chatear as pessoas mas não assim tanto.
-Ter o Simon Harry na vida dá saúde - brinquei.
-Mas ainda bem que insisti - acariciei a sua face.

-Ainda bem que insististe. - repeti, acariciando a mão dele que estava na minha face - Agora voltando ao tema principal da noite: o que é que queres comer? Estás sem comer há tempo de mais. Queres uma canjinha? Um chá? Qualquer coisa.

-Oh Simon.... - suspirei pesadamente - Mas a pior coisa que se pode fazer quando se está doente é deixar de comer. Eu não quero que fiques pior.

-Mas eu já estou bem! Não te preocupes! E é demasiado tarde. Vamos é dormir, depois como quando acordar - beijei-lhe a testa.
Enfiei a minha cara no pescoço dela e deixei-me estar assim.

-Está bem, mas amanhã é a primeira coisa que fazes assim que acordares! - avisei-o. Deitei-me como deve ser, aconchegando-o bem contra mim e fazendo-lhe o mesmo - Dorme bem. - fechei os olhos.

-Sim, mamã - meti um braço por cima dela e passado algum tempo adormeci.
De manhã, quando acordei, estava-me a sentir mais podre que nunca.
-Madison - tentei dizer. Tinha de a afastar de mim ou ela ia ficar doente também.

Bati-lhe ao de leve no rabo como forma de repreensão mas mantive-me calada. Adormeci depois de me certificar de que ele estava a dormir descansado.
Acordei ao ouvir a voz de Simon. Estava a dormir mas tinha estado a noite inteira com o sono leve e atenta a ele - Sim? - sentei-me ainda de olhos fechados - Estás bem? Diz-me o que é Simon. - quando consegui finalmente abrir os olhos vi que já era de dia. Vi também que a cara de Simon não era a melhor.

-Sai daqui. Eu acho que estou pior e - respirei fundo para conseguir falar - não quero...que fiques doente. Estás demasiado perto.
O corpo estava todo dorido e a minha cabeça mais pesada que nunca.

Esfreguei os olhos muito rapidamente e levei as mãos ao cabelo num ato de desespero. O que é que eu faço agora? Já tentei tudo o que sabia e ele parecia estar a ficar melhor mas agora parecia três mil vezes pior que antes - Eu vou ligar à minha mãe. - afastei-o com cuidado de mim, instalando-o confortavelmente na cama e peguei no telemóvel.

-N-não...não me deixes, Madison, não - murmurei.
Sentia-me a escaldar e com frio ao mesmo tempo.
-Madison... - voltei a chamar.

-Estou aqui, Simon. - tentei mandar uma mensagem mas estava nervosa de mais par conseguir carregar nas teclas certas - Eu não te vou deixar. - marquei rapidamente o número da minha mãe e encostei o telefone ao ouvido com a ajuda do ombro enquanto procurava pela toalha que tinha usado ontem. Molhei-a de novo e voltei para a cama - Shhh estou aqui. - murmurei. Deitei a cabeça dele no meu colo e pus-lhe a toalha na testa. A minha mãe não atendeu o telefone. Voltei a tentar.
-Madison? - ouvi a voz ensonada da minha mãe do outro lado.
-Mãe, tens que vir! É o Simon, eu pensava que ele estava melhor mas não está. Eu não sei o que fazer mais. - atrapalhei-me toda a falar.
-Tem calma. Já lhe puseste a toalha fria na testa? - conseguia ouvir movimento do outro lado da linha.
-Sim.
-Fizeste bem. Eu vou-me vestir e vou para aí.
-Quarto 205. - desliguei o telemóvel.

-Acho que vou... - merda. Só tive tempo de afastar Madison a muito custo e vomitar água, visto que não tinha nada no estômago.
Felizmente só o fiz uma vez e aquilo não deitava cheiro.

Pousei o telemóvel e assim que me virei para Simon ele afastou-me e inclinou-se para a frente, vomitando apenas água. Apressei-me a ampará-lo e pus-lhe a mão na testa tal como a minha mãe me fazia - Queres vomitar mais? - perguntei.

-Não - disse a muito custo.
-Vou adormecer - pelo menos, era o que eu achava. Mas acho que acabei por me apagar.

-Não, Simon! - chamei. Retirei-lhe a mão da testa e encostei a cabeça dele ao meu peito - Simon acorda não adormeças! - bati-lhe na cara. Tinha tanto medo de que ele adormecesse e não acordasse mais. Apesar dos meus esforços ele não acordou. Dei-lhe um beijinho na testa e deitei-o com cuidado na parte da cama em que ele não tinha vomitado. Levantei-me da cama e retirei o lençol vomitado, indo deitá-lo no cesto.
Corri para a porta quando ouvi bater - Mãe. - respirei fundo ao vê-la à minha frente - Tens que me ajudar! Logo depois de desligar ele vomitou água porque não quis comer nada ontem apesar de eu ter insistido muito e agora adormeceu e eu tenho tanto medo que ele não volte a acordar. Por favor mãe. Ajuda-me. - quando acabei de falar estava sem ar.
-Calma Madison. - ela fez-me uma carícia na bochecha e entrou no quarto. Fechei a porta e virei-me para ela.
-Eu despi-o porque ele ontem estava com frio e só se queria tapar. Tu disseste que nestas alturas tem que se estar o mais fresco possível. E dei-lhe um comprimido.
-Muito bem. Quais é que lhe deste? - fui buscar a caixa e mostrei-lha.
-Estes comprimidos só são fortes o suficiente para o manter estável durante umas horas. Eu vou examiná-lo e tentar chegar a uma conclusão.
-Okay. - assenti e fiquei aos pés da cama a vê-la trabalhar.

Quando acordei, estava uma senhora a mexer-me na cara. Ah, era a mãe de Madison.
-Madison - tentei dizer mas falhei.
Ainda me sentia a morrer.

Arregalei os olhos quando vi Simon abrir os olhos. Vi a boca dele mexer mas nenhum som saiu. Subi para a cama pelo lado oposto em que a minha mãe estava - Estou aqui. - desviei-lhe alguns dos caracóis da testa. A minha mãe tirou o estetoscópio da mala.
-Agora vais ter que te sentar. - ela disse para Simon.

Sentar... vamos ver é se eu consigo suceder.
Comecei a arrastar-me para cima. A minha cabeça doía para caraças e já nem via bem.

-É mesmo necessário? - olhei para a minha mãe e depois para Simon. Ele estava miserável, mal conseguia abrir os olhos quanto mais sentar-se.
-Sim, é. Mas eu vou tentar ser rápida. - assenti e apressei-me a ajudar Simon quando vi que ele se estava a tentar sentar.
Pus-lhe uma mão na testa para o impedir de pender a cabeça para a frente e outra nas costas para o manter o mais direito possível.

-Mãos...frias - consegui deixar escapar. Tanto as mãos da mãe de Madison como as desta última estavam geladas.
Só me apetecia dormir outra vez mas ao mesmo tempo não conseguia.

-Desculpa, desculpa. - murmurei, beijando-lhe a bochecha - Mãe despacha-te! - pedi. Conseguia ver na cara dele que estava cheio de dores e lhe estava a custar imenso estar assim.
-Está quase. - assenti - Já está. - assim que ela o disse voltei a deitar Simon na cama com cuidado e tapei-o com o lençol.
-O que é que ele tem?
-Pelo que eu percebi é uma virose. Só que para pessoas com o sistema imunitário fraco, como imagino que seja o caso do Simon, afeta-as de maneira diferente e é mais perigoso. Mas com estes comprimidos - tirou uma caixa da mala - Ele deve ficar bem.
Suspirei de alívio - Quantas vezes ao dia?
-Só uma. Como são fortes, um por dia chega. Durante 5 dias.
-Okay. - levantei-me da cama e fui à casa de banho buscar um copo com água que trouxe.
-Precisam de mais alguma coisa?
-Não, obrigada por vires mãe.
-De nada, querida. - ela sorriu e deu-me um beijo na testa, indo-se embora.
Abri a caixa dos comprimidos e retirei um comprimido. Levantei ligeiramente o pescoço de Simon - Abre a boca. - pedi.

Grunhi cheio de dores e finalmente tudo acabou e eu podia voltar a deitar-me.
Ela pediu-me para abrir a boca e eu assim o fiz.

Meti-lhe o comprimido na boca e de seguida o copo de água. Deixei-o beber um bocado e depois tirei-lhe o copo da boca, pousando-o na mesa de cabeceira - Eu já venho. - aconcheguei-o como se ele fosse o meu bebé e dei-lhe um beijo demorado na testa. Sabia que ele não queria comer mas tinha que pelo menos beber. Como ele era inglês presumi que gostasse mais de chá do que de leite. Por isso, fui ao bar do hotel buscar um chá para ele.